sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Estudantes da USP decidem em assembleia manter a ocupação do prédio da reitoria

Em assembleia realizada no final da noite desta quinta-feira (3) o grupo de estudantes que ocupa a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) decidiu manter a ocupação do prédio no campus.

A decisão acontece após a Justiça autorizar a reintegração de posse do prédio, ocupado por estudantes desde a madrugada de ontem (2). O pedido foi feito na tarde desta quinta-feira (3) e aceito no começo da noite e os estudantes têm 24 horas para sair do local.

Em conversa com a reportagem do UOL Notícias por telefone, um estudante do curso de Geografia, presente na assembleia, que pediu para não ser identificado, disse que a decisão foi tomada por meio de votação, e grande maioria dos estudantes optou pela continuidade do ato. Ainda de acordo com ele, "não teve proposta para desocupação".

A representante da Comissão de Comunicação de Ocupação declarou ao UOL Notícias, também por telefone, que a ocupação é "um ato político" e, portanto, deve continuar. "Achamos um absurdo resolver os problemas da universidade com PM no campus", disse

Estudantes arrombaram portão e tentaram quebrar câmeras em invasão; assista

 

Reintegração de posse

De acordo com a decisão da Justiça, a reintegração deve ocorrer "sem violência, com a participação de um representante dos ocupantes e da autora, para a melhor solução possível, observando a boa convivência acadêmica, em um clima de paz". Caso a reintegração não ocorra no prazo, a juíza autorizou, como "medida extrema", o uso de força policial.

O prédio da reitoria foi ocupado por estudantes que protestam contra a presença da Polícia Militar no campus e ficaram insatisfeitos com o resultado da assembleia da noite de terça-feira (1º), realizada na faculdade de História e Geografia, no qual os alunos votaram pela desocupação da administração da FFLCH, ocupado desde a última quinta-feira (27).

Dos mais de mil presentes na assembleia, 559 votaram a favor da desocupação e 468 contra. Após a votação, o DCE (Diretório Central dos Estudantes), que estava na mesa, decidiu encerrar a assembleia, já que o teto do horário estabelecido no início da assembleia já havia sido estourado.

A decisão revoltou parte dos presentes, que deciriam assumir a mesa e abrir uma nova assembleia, apesar de pelo menos metade dos que estavam na assembleia já tivessem deixado o local. A maioria dos que permaneceram votou a favor da ocupação da reitoria, o que ocorreu logo em seguida.

Para DCE, invasão foi "pouco responsável"

Para o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP, o grupo de estudantes que invadiu a reitoria da universidade "agiu de forma pouco responsável, deslegitimando a resolução feita na assembleia", que decidiu pela desocupação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e pela instauração de um calendário de debates e atividades para ampliar a discussão sobre a segurança pública no campus.

Segundo a nota publicada pelo DCE, o ato de invadir a reitoria foi tomado por um setor do movimento. Na visão do Diretório, as práticas adotadas "não contribuem para uma atuação consequente, democrática e de luta". Os estudantes afirmam que é necessário que haja unidade do movimento estudantil, para "combaterem o projeto privatizante e excludente realizado pelo governo estadual e pela reitoria".

O DCE também critica o pedido de reitengração de posse, feito pela reitoria. Segundo eles, a atitude "contribui para aumentar o impasse, expressando a indisposição ao diálogo em solucionar a questão".

Protestos

Na terça (1º), cerca de 300 alunos favoráveis à PM na USP fizeram um ato dentro do campus. Na segunda, outros 300 estudantes e funcionários contrários à PM fizeram um protesto no campus e fecharam a rua Alvarenga, que fica em frente ao portão principal da USP.

Os estudantes pedem a revogação do convênio assinado em setembro entre a USP e o governo que permite a PM no campus e exigem a retirada dos processos administrativos contra trabalhadores e alunos que participaram de atos políticos.
Nessa terça, a Congregação da FFLCH –órgão mais importante da unidade– emitiu uma nota dizendo que irá procurar a reitoria e o conselho gestor para buscar uma reavaliação do convênio entre USP e PM.

A congregação criticou o convênio e a atuação da PM na universidade. A unidade defende ainda uma nova política de segurança na USP, compatível com os direitos humanos e que esteja ao lado da comunidade acadêmica.

Noite de fúria

A confusão na USP começou por volta de 18h30 da última quinta-feira (27), após PMs deterem três estudantes que estavam com maconha no estacionamento da faculdade de História e Geografia. Enquanto os policiais levavam os rapazes para um carro de polícia, um grupo de estudantes começou a protestar e impediu que os usuários fossem levados à delegacia.

À medida que o protesto ganhava adesões, os policiais chamaram reforços. Um delegado de Polícia Civil chegou a ir até o local. Após mais de três horas de discussão entre representantes da polícia, estudantes e professores, começou a confusão. Os estudantes gritavam palavras de ordem contra a presença da polícia e exibiam livros de autores de esquerda como forma de protesto.

A tensão entre as duas partes cresceu até o momento em que um estudante lançou um cavalete em direção aos policiais. Irritados, os agentes partiram para cima dos estudantes que estavam perto dos carros de polícia, agredindo-os com cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. Alguns estudantes revidaram atirando pedras. Estudantes e professores ficaram feridos.

Segundo João Victor Pavesi, diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes), os três rapazes detidos concordaram em ir até a delegacia assinar um termo circunstanciado –que não tem caráter punitivo nem resulta em abertura de inquérito contra os usuários.

Os rapazes decidiram ir à delegacia após a diretora da FFLCH, Sandra Nitrini, afirmar que não abriria processo administrativo contra eles.

Por volta de 22h do mesmo dia, cerca de 500 estudantes reunidos em assembleia decidiram, por 205 votos contra cerca de 190, ocupar o prédio da administração da faculdade.

Debate sobre a PM

A presença dos policiais no campus –defendida pelo reitor, João Grandino Rodas, e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB)– passou a ser mais frequente e em maior número após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, em maio deste ano. Em setembro, o reitor e o governador assinaram um convênio, autorizado pelo Conselho Gestor do Campus, para regulamentar a atividade da PM na USP.

Os contrários à PM no campus dizem que a medida abre precedente para a polícia impedir manifestações políticas –que comumente ocorrem dentro do campus– e citam o episódio de junho de 2009, quando a Força Tática da PM entrou na universidade para reprimir um protesto estudantil e acabou ferindo os estudantes e jogando bombas dentro de unidades.

Como alternativa à PM, o DCE defende que a segurança do campus não seja militarizada, isto é, que seja de responsabilidade da Guarda do Campus. A entidade defende que haja mais iluminação das vias do campus e que a USP mais seja aberta à comunidade externa, aumentando a circulação de pessoas.

Uma parcela dos alunos –sobretudo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e da Escola Politénica– defende a presença da PM, argumentando que isso aumenta a segurança dos frequentadores do campus.

Fonte: Portal UOL

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